SERVIDORA DA UFSC CONVOCADA PARA O MUNDIAL DE PARASURF NOS ESTADOS UNIDOS!

25/11/2022 10:57

Denise Siqueira é servidora Técnico-Administrativa da UFSC, nascida em São Paulo Capital, morando em Florianópolis desde 2000 quando passou no vestibular. Desde lá, graduou-se em Economia e Relações Internacionais, e passou a praticar o surfe, por uma circunstância de sua vida. Recentemente sagrou-se campeã nacional de surf adaptado, em evento disputado no Ceará, com apoio da UFSC.

A partir da conquista nacional, Denise foi convocada para o Mundial de Parasurf que acontecerá na Califórnia/EUA e vai representar a UFSC e o Brasil lá fora! O primeiro Mundial de surf adaptado foi realizado em 2015, e desde então a modalidade cresceu significativamente. Em 2021, o evento quebrou recordes, com participação de 134 atletas de 24 países, sendo o envolvimento das mulheres na competição o maior entre todas as edições do mundial, dado relevante para International Surfing Association (ISA), que tem a igualdade de gênero como uma das suas missões.

Fizemos uma entrevista exclusiva com a Denise sobre sua trajetória como atleta e a relevância do Parasurf dentro do contexto do esporte brasileiro, dá uma olhada:

1. Há quanto tempo você está treinando essa modalidade?

“Não faz muito tempo que eu surfo não, comecei a surfar em 2018 porque o processo foi muito mais longo na tentativa de criar as condições para eu conseguir estar no mar, porque eu queria e muitas outras pessoas queriam estar no mar surfando, mas, não conseguíamos por conta da nossa deficiência.

2. De onde você tirou essa vontade de surfar?

“A gente mora em uma ilha, quando eu me mudei pra cá em 2000 eu não estava em uma cadeira de rodas, eu sofri um acidente em uma viajem que eu fiz para Santos, na época eu tinha vinte e um anos e estou em uma cadeira de rodas por conta de um acidente. Estou falando em uma categoria de pessoas com deficiência, esse não era o meu lugar, mas, hoje é, e não é um lugar fácil de se estar. Essa é a minha realidade que é bem diferente da que eu tinha antes, muito mais desafiadora e eu nunca quis abrir mão da minha vida, quero continuar vivendo de verdade, não quero meia vida, quero uma vida inteira.”

“Eu estava fazendo uma disciplina de pós-graduação na psicologia chamada Estudos sobre a Deficiência, com o professor Adriano Nuernberg o nome da matéria era Estudos sobre a Deficiência com o professor Adriano Nuernberg, e tinha uma galera da turma que estava nessa batalha também. Eu aprofundei meus estudos sobre acessibilidade por conta que a gente não tinha acesso a vários lugares na época, não tinha ônibus acessível, não tinha acessibilidade no campus, nos prédios, foi uma luta muito grande. Eu entrei para a comissão da OAB, de luta pelos diretos das pessoas com deficiência, também entrei no Floripa Acessível, e a gente teve muita luta e debates, com intervenções e leis, fomos para Brasília. Para conseguir mudar essa realidade, porque não tem muito tempo que as pessoas com deficiência estão inclusas nesses processos.”

“Por isso que eu fui para as lutas, para ser resistência e lutar. A questão do transporte público, tinha legislação em 2004, só que ninguém cumpria a lei, chegava no prazo determinado e solicitavam pedido para estender prazo. Só que daí conseguimos fazer uma intervenção via Brasília para que o fabricante não pudesse mais produzir peças sem acessibilidade, com isso, as empresas impressas não iam conseguir mais comprar peças sem acessibilidade. Porque se fossemos depender da boa vontade do empresariado, eles queriam mais que a gente não estivesse circulando por aí, tanto a gente sabe que o atual presidente tentou por três vezes fazer uma legislação que proibisse novamente que as pessoas com deficiência estudassem no mesmo espaço de pessoas sem deficiência.”

“Nessa época que eu estava estudando na Psicologia eu e conheci uma menina chamada (?) Gomes. Ela foi emblemática pra gente conseguir fundar uma associação de surfe adaptado aqui em Santa Catarina, e ela também era estudante de mestrado. Tivemos a nossa primeira reunião que aconteceu aqui na Biblioteca Universitária, quando o Cisco Aranã veio doar as primeiras pranchas para associação. E também teve o seu Paulo, que é dono do Vereda Tropical, ele cedeu parte do terreno pra gente construir a associação, fizemos vaquinha para conseguir arrecadar dinheiro e hoje a associação funciona na Barra da Lagoa.”

3. Qual a importância do Surfe Adaptado e a relevância dele no esporte?

“Então, tem vários enfoques, eu hoje estou em uma condição de atleta de rendimento, tem a questão esportiva de disputa, que é um lugar que eu acabei indo parar primeiramente porque a gente queria dar visibilidade para o esporte mais do que outra coisa,. Mas, ele tem muitas vertentes, não só pela questão da deficiência só que mas também da pela questão da inclusão social, da terapia, de saúde. Quando a junta médica do trabalho me recomendou, eles me deram uma hora a menos de trabalho desde que eu mantivesse a prática esportiva, porque eu tenho problemas de repetição por causa de ter que ficar empurrando muito a cadeira e isso lesiona as ligações do braço. E por incrível que pareça, o surfe não atrapalha, pelo contrário, ele fortalece e era um fortalecimento que eu precisava.”

4. Qual a data e o local que o campeonato vai acontecer?

“Eu viajo no dia 02/12, mas ele começa oficial dia 04/12 e dura até o dia 11/12. E todos os atletas do parasurf precisam passar por uma avaliação médica e durante uns dois ou três dias antes do campeonato iniciar a gente fica só naquele processo passando por uma junta de profissionais.

Vou ficar em concentração de treino no Rio de Janeiro durante essas próximas semanas até a viagem para a Califórnia.”

5. Como está sendo o suporte que a universidade está te dando nas competições?

“Para tudo que eu precisava, embora todo o sucateamento que a universidade está passando, eles me deram um baita apoio, mesmo a universidade não podendo cobrir custos financeiros nesse momento. Eles me deram uma ajuda de custo nesse último campeonato que eu participei, mas eu acho que acima de tudo a universidade ela dá um apoio moral, bota a gente pra cima e isso dá uma confiança. E eu sei que a universidade faria muito mais se a gente não tivesse nessa precariedade que se encontra, e isso é muito importante, porque fortalece a gente pra seguir.”

6. E como que era esse suporte antes e como está agora com a mudança de gestão?

“Eu sinto essa atual gestão muito aberta ao diálogo, muito mesmo, só que eu não vou falar que era ruim antes não. só que A gente sabe que estamos vindo de quatro anos horrorosos para a educação no Brasil, mas nessa gestão a gente vê uma abertura pra um diálogo e está bem ágil, você sente que eles não estão ouvindo por ouvir, tu vais lá e conversa com eles e eles se reúnem e deliberam, e tomam providencias e confirmam contigo se está correspondendo com o que você precisa, e isso é muito legal. Eu vejo que é uma gestão que está começando agora, mas eu acho que vai despontar a universidade de uma forma, porque eles estão fazendo um trabalho, do meu ponto de vista, espetacular.”

7. Por fim, quais são as suas expectativas?

“Olha, eu vou ser bem sincera: eu não sei como que eu vou me sair lá, porque como eu disse antes sou uma iniciante no esporte. Claro que eu cheguei até aqui por um mérito meu, eu ganhei as competições, venci local, venci estadual e

nacional. Mas, eu sei que as meninas que vão estar lá e vão disputar a minha categoria são casca grossas, surfaram a vida inteira, surfavam antes de sofrer algum acidente, não são iniciantes iguais a mim. Só que eu sei que vai ser um desafio e um aprendizado, acima de tudo um aprendizado porque, eu acho que nesse momento é que eu vou começar a desenvolver mesmo o meu potencial, por conta que eu ganhei um bloco nessa última premiação e vai ser a primeira vez que eu vou ter uma prancha minha, feita pro meu peso e altura.”

“Estou com uma parceria com uma empresa, ROUTE Brasil, que fabrica pranchas no Rio de Janeiro, e eles estão fazendo uma com as minhas necessidades.”

Como pretendemos ajudar esse público no próximo ano?

A UFSC, por meio do Departamento de Esporte, Cultura e Lazer – DECL/SECARTE, viabilizou as passagens para a Denise participar da etapa nacional do Campeonato de Surfe Adaptado, no qual sagrou-se campeã em sua categoria e conquistou a vaga no mundial da modalidade, que será disputado na Califórnia/EUA, no mês de dezembro/2022, para o qual a universidade também viabilizará uma ajuda de custo e condições necessárias para que nossa representante esteja concentrada em seus treinos até o período da competição.

A intenção do DECL é ampliar e democratizar cada vez mais o atendimento ao público relacionado, por meio de uma política a ser desenvolvida a partir de 2023, contando com a participação de todos os interessados, sempre com o objetivo de possibilitar uma construção coletiva.

Desejamos boa sorte à Denise em mais este desafio!